Conferência Estadual de Economia Solidária reúne lideranças em MS e fortalece o protagonismo coletivo por políticas públicas inclusivas
Campo Grande (MS), 28 de maio de 2025 – A Central de Comercialização da Economia Solidária, localizada em Campo Grande, foi o cenário do primeiro dia da Conferência Estadual de Economia Popular e Solidária de Mato Grosso do Sul, um marco importante para o fortalecimento das políticas públicas voltadas à economia popular e solidária no estado.
A Conferência é uma etapa preparatória para a 4ª Conferência Nacional de Economia Solidária e teve como tema central “Economia Popular e Solidária como Política Pública: Construindo territórios democráticos por meio do trabalho associativo e da cooperação”. O evento segue até o dia 29 de maio e reuniu representantes de empreendimentos solidários, movimentos sociais, sindicatos, povos tradicionais, universidades e poder público municipal, estadual e federal.
Participação da UFMS por meio do Observatório do Cooperativismo – OBCOOP/UFMS
A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) esteve representada institucionalmente pelo Observatório do Cooperativismo da UFMS (OBCOOP/UFMS), que desempenhou um papel fundamental no apoio logístico, administrativo e técnico da conferência.
Sob a coordenação do professor Alessandro Arruda, o OBCOOP/UFMS acompanhou todas as etapas do evento, auxiliando na organização, estruturação dos grupos de trabalho e registro das propostas. A equipe do Observatório contou ainda com a atuação ativa do Professor Geraldino de Araújo e dos bolsistas Otávio Rios, Guilherme Gonzaga, João Victor e Carlos Villalba, que participaram diretamente das discussões nos grupos temáticos, contribuindo para a sistematização dos debates e encaminhamentos.
“A presença do Observatório neste espaço é uma forma de unir ciência, política pública e movimentos sociais. Estamos aqui para colaborar, aprender e potencializar o papel da universidade como agente de transformação social”, afirmou o professor Alessandro Arruda.
A atuação do OBCOOP/UFMS fortalece a aproximação entre a universidade e os territórios, promovendo um diálogo concreto entre o conhecimento acadêmico e as práticas comunitárias de autogestão e organização econômica solidária.
Uma conferência com escuta ativa e construção coletiva
A abertura oficial contou com a leitura e aprovação do Regimento Interno, que reafirmou o caráter participativo da conferência. Em seguida, uma análise de conjuntura histórica resgatou os principais marcos da economia solidária no Brasil, desde os anos 1990 até a criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), com destaque para a atuação de lideranças como Paul Singer.
A análise também denunciou os retrocessos sofridos nos últimos anos, com o desmonte de políticas públicas e o enfraquecimento dos vínculos institucionais entre o poder público, os empreendimentos solidários e a academia. O momento atual, segundo os participantes, exige reconstrução de políticas com base na escuta popular e no protagonismo dos territórios.
Grupos de discussão por eixo temático
Durante a tarde, os participantes foram divididos em grupos para debater os cinco eixos estratégicos da conferência:
Eixo 1 – Realidade Social, Ambiental e Territorial
Foram destacadas questões estruturais como o impacto do agronegócio nos territórios, o uso intensivo de agrotóxicos, a degradação dos biomas (Pantanal e Cerrado) e o racismo ambiental que afeta comunidades indígenas e negras. Entre as propostas, destacam-se a criação de centros municipais de comercialização, políticas públicas específicas para populações tradicionais e a promoção de práticas agroecológicas e sustentáveis.
Eixo 2 – Produção, Comercialização e Consumo
Produtores relataram desafios como a invisibilidade dos empreendimentos solidários, ausência de CNPJs, dificuldades de acesso a feiras e logística de escoamento da produção. Foram propostas ações como fomento à formalização, criação de cooperativas, apoio técnico para escoamento da produção e organização de grupos por afinidade produtiva.
Eixo 3 – Financiamento, Crédito e Finanças Solidárias
Discutiu-se a falta de acesso a crédito para grupos informais, a burocracia para acessar editais e a inexistência de fundos específicos. As propostas incluem a criação de fundos municipais, estaduais e federais exclusivos para economia solidária, com repasse fundo a fundo, nos moldes da saúde e assistência social, além da inclusão das demandas no Plano Plurianual (PPA).
Eixo 4 – Formação, Educação e Assessoramento Técnico
Os participantes apontaram a ausência de formação continuada, materiais didáticos adequados e apoio técnico. Propuseram a criação de núcleos comunitários de formação, parcerias com universidades, inclusão da economia solidária nos currículos escolares e valorização de saberes tradicionais, como os da agroecologia e da cultura camponesa e indígena.
Eixo 5 – Ambiente Institucional e Participação Social
Foram reforçadas demandas por criação de conselhos municipais e estaduais de economia solidária, com ampla representatividade. Destacou-se a necessidade de aprovar e regulamentar leis municipais, com dotação orçamentária específica, e garantir a participação efetiva dos gestores públicos na implementação das ações.
Sentimento de retomada e mobilização
O sentimento predominante entre os participantes foi o de esperança e mobilização coletiva. Após anos sem muita atividade, a conferência representa um marco na reconstrução das bases da economia solidária, com participação democrática e protagonismo das comunidades.
“A conferência está sendo um momento muito rico de escuta e construção. Os territórios estão falando, e nós estamos aqui para ouvir e transformar essas falas em propostas concretas”, comentou uma das relatoras dos grupos de eixo.
A programação segue no dia 29 de maio, com sistematização das propostas, eleição de delegados para a etapa nacional e leitura da carta final da conferência.
Texto e fotos: Arlindo Machado